Já passei pela introdução da alimentação complementar de três bebés. Uns mais fáceis que outros, mas sem dúvida que a experiência foi me limando, para saber lidar cada vez melhor com esta fase. E hoje trago-vos os meus segredos mais preciosos, para uma introdução da alimentação complementar mais tranquila. 

O bebé não tem que comer

O segredo mais bem guardado da introdução da alimentação complementar! Na verdade o bebé não tem que comer. A alimentação complementar é isso mesmo, complementar ao leite, que continuará a ser o alimento primordial do bebé até aos 12 meses (por algum motivo se chamam lactentes até aos 12 meses). A introdução da alimentação complementar serve para mostrar ao bebé como se alimentar posteriormente, para além do leite. Esse período de experimentação, exploração e adaptação pode durar vários meses e deve ser visto assim mesmo: um período de experimentação, exploração e adaptação.

Também, não é suposto o bebé saciar a sua fome logo nas primeiras refeições. Eles não percebem o objectivo daqueles novos “brinquedos”. Só com o tempo perceberão os novos alimentos, que irão, eventualmente, substituir o leite, que os alimentou até então. 

Com isto em mente, passa a ser mais fácil aos cuidadores do bebé relativizar todo o processo. Não faz mal se não comerem muito; não faz mal se passarem um dia inteiro a leite a meio do processo, porque nos é mais simples. Nada faz mal e tudo é normal. A única coisa que temos de aceitar enquanto cuidadores, é que o tempo do bebé merece ser respeitado. Nós não forçamos um bebé a andar, porque teremos de o forçar a comer?

O bebé não deve ter fome

E porque não se deve esperar que o bebé peça para comer, como pede para mamar? Pois imaginem que são esse bebé, cheio de fome, e que vos é apresentada uma coisa para comer que não conhecem ou não estão habituados. Estão rabugentos da fome e frustrados, por aquilo não ser a vossa comida habitual. Por isso, vão chorar, bracejar e manifestar-se vocal e fisicamente da melhor forma que conseguirem. Há comida pelo ar, gritos e choro do bebé e dos pais. Been there.

Por isso, o segredo é: no início da introdução da alimentação complementar oferecer a nova iguaria um pouco depois da última refeição de leite do bebé (eu espero 1h a 1h30). Numa altura que não tenha muita fome, que esteja bem disposto e receptivo à experiência nova.

O bebé não deve ter sono

Já sei como estão a imaginar o cenário: “porreiro, porreiro, é empanturrar o miúdo de comida, que ele depois vai logo dormir, para nós comermos descansados”. Errado. Péssima ideia. Um bebé cansado, não vai comer melhor, pelo contrário. Só vai aumentar o stress e ansiedade naquela hora. O bebé não come, está claramente cansado, esfrega a comida nos olhos, e na cara. Acaba por aterrar com a cara em cima do bocado de banana. 

Agende as refeições para aqueles períodos depois de umas boas sestas, quando o bebé estiver bem disposto e activo. E assim de tudo agende a sua refeição para essa altura também, para que… (dica seguinte)

Sente-se à mesa com o bebé

Em seguimento do segredo anterior, sentem-se à mesa com o bebé, comam ao mesmo tempo que ele. Não pensem em despachar o bebé, para poder comer descansadas/os. Esse pensamento só vai trazer stress e tensão na hora da refeição ao bebé. Pensamentos do “porque não come mais rápido”, do triturar finamente a comida para ser mais fácil e nunca sair desse registo. O mais simples é ir comendo ao mesmo tempo que o bebé, com calma e tranquilidade, levando o tempo, que a refeição deve ter. E até deixar que ele lhe roube alguma comida do prato (se for adequada).

Também, ao comer com ele, comunica o que é suposto fazer-se naquele local, aquela hora: comer. Os bebés sentem-se mais confiantes em comer, quando vêm a família comer. É um instinto primitivo, pois querem copiar e comer comida segura. Se a mãe come, é seguro. 

Não meça a comida

Também mede a comida que come? Há dias que os bebés bebem mais leite, outro menos. O mesmo com a alimentação complementar. Os bebés têm mais apetite nuns dias, menos noutros e isso deve ser respeitado. De nada serve medir comida e exigir-se que ele coma aqueles mls de sopa, aqueles mgrs de legumes, arroz, ou carne. Só criará mais stress em si, por ver que ele não está a comer o que “é suposto”, e frustração no bebé por não ter mais apetite e estar a ser forçado a comer. 

Não crie expectativas

Querem uma opinião de quem já fez isto três vezes? Não vão com grandes expectativas que o bebé vai “papar a papinha toda”. Não vale mesmo a pena. Como disse antes, é um período de adaptação e é suposto eles fazerem isso mesmo: adaptarem-se. É suposto experimentarem a comida, ver o que acontece quando põem a língua de uma maneira, ou de outra, quando enrolam, quando abrem e fecham a boca e quando fazem brrrrrrrrr. O que acontece se enfiarem a mão dentro da boca, e a mão dentro da taça, de tentar agarrar uma colher. 

Todos os dias são uma vitória e vejam-nos com gratidão, como mais um passo dado, na aprendizagem deles. Todos os dias aprendem uma (ou mais) coisa nova. 

Relaxe

Pegue na máquina fotográfica tire umas fotos giras para colar na parede da cozinha. Relaxe e usufrua ao máximo destes momentos. Daqui a alguns meses vai ter pena de não ter registado aquele banho de sopa que o bebé deu a si próprio. 

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