Como sobreviver a 3 filhos #02
Quando se vive numa casa “povoada” toda a pequena ajuda é imprescindível. Ninguém é empregada de ninguém, e os tempos de escravatura já lá vão.
Desde que as miúdas sabem andar e coordenar aqueles bracinhos e mãozinhas, que ajudam cá em casa. Uma das tarefas em que colaboram é a arrumar a loiça na máquina da loiça, seja a colocar suja, ou a tirar e arrumar limpa (a que conseguirem).
Mas se acham que é só dizer e eles fazerem, não é bem assim. Requer algum trabalho da nossa parte em preparar tudo, para eles ajudarem, e acima tudo, saber dar a motivação certa, sempre de forma positiva.
Tudo a postos
Para além de ter a cozinha toda preparada para elas (podem ver aqui), há gestos diários que tenho de manter para que elas colaborem nas tarefas domésticas.
No que concerne à máquina de lavar-loiça, tento que esteja sempre vazia antes das refeições. Assim, quando elas terminam de comer, levantam logo a sua parte e arrumam na máquina. Dizer que esperem que acabe de arrumar a loiça, faz com que se distraiam com qualquer coisa e é mais difícil que retornem à cozinha para ajudar a arrumar (vida de criança é muito ocupada).
Também vou arrumando a loiça na máquina de forma a que elas detectem os espaços vazios para a loiça delas. Pensar mais de um ponto de vista de jogos de encaixe e não de um tetris. Se lhes der muito trabalho a descobrir um sítio para a loiça delas, mais facilmente desistem da tarefa.
Por exemplo, vou arrumando a loiça nos “contornos” do tabuleiro da máquina, pois a tendência delas é sempre por a loiça no meio.
Tentar ao máximo não mexer no que eles puseram na máquina, ajuda a aumentar a confiança deles nesta tarefa. Percebem que o que fizeram não é desfeito e isso dá-lhes motivação a continuarem. Se percebem que mexemos sistematicamente na posição que eles escolheram para a loiça, pode levar a alguma frustração ou que sintam que o seu esforço não foi valorizado. Por isso, vai haver uns dias que a máquina vai menos bem arrumada para lavar, mas faz parte do processo.
Também é importante estar sempre disponível para quando a loiça precisa de ser passada por água. Cá em casa é raro os pratos virem com comida agarrada, mas é normal terem molho e alguns restos. Pedem-me sempre para passar por água antes de arrumarem na máquina e convém estar a postos.
Estratégias para evitar acidentes
Quando eles começam a ajudar, são muito cautelosos. Mas se correr bem, começam a aventurar-se e a querer fazer mais e mais rapidamente.
Cá em casa é normal quererem descer das cadeiras da mesa com loiça na mão ou trazer a loiça toda de uma vez, seja para mostrar que são capazes, ou para despacharem a tarefa, para irem brincar. Para elas, não conseguem antever o que pode acontecer e desconhecem certos perigos das suas acções. Para mim, vejo passar na minha mente vários cenários de loiça a cair e a partir-se e o caos a construir-se. Este pseudo-pânico criado pela nossa mente, pode levar-nos a reacções exageradas como “assim não, que não consegues”, “vais partir isso tudo”, “deixa isso que eu faço” etc. De forma inconsciente, as nossas palavras podem ser muito cruéis para as crianças e leva-las a perderem a confiança nelas próprias. Isso conduz a que não queiram ajudar e a desistirem de fazer as tarefas. É importante mudar este tipo de atitude e discurso, dando opções de resolução fácil das dificuldades que eles próprios criam. Instituir sistemas e rituais, ajuda a que eles façam as coisas de uma forma regrada, evitando os acidentes.
Cá em casa é muito comum usar-se o chão como apoio ao que estão a fazer. A loiça está suja e está, não faz mal ser pousada no chão).
Tarefas ou brincadeiras?
Mantenho-as motivada, tranformando as tarefas em pequenos jogos. Uma gaveta de talheres pode de repente ser um tabuleiro de encaixe de formas. Talheres com o mesmo formato e tamanho devem ficar juntos. Por exemplo, podemos usar esta tarefa, para ensinar a gradação de tamanho dos talheres: colher grande, colher média e colher pequena.
Ou ter que encaixar os talheres no tabuleiro dos talheres da máquina, todos para o mesmo lado.
Atribuir-lhes tarefas domésticas, tem imensos pontos positivos:
– ajuda-os a sentirem-se úteis em casa;
– a verem os seu esforço facilmente recompensado com a nossa gratidão (qual é a mãe que não gosta de ajuda? qual o filho que não gosta de ver a mãe a sorrir?);
– desenvolvem vários níveis de motricidade e coordenação, para além de poder ser didáticos (podemos ensinar cores, gradações de tamanho, etc);
– rouba-lhes umas quantas horas de televisão;
– criam empatia pelo trabalho que os pais têm a arrumar e a limpar, tornando-os mais pro-activos e cuidadosos em manterem as coisas limpas e arrumadas.
6 Comments
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mas que belo post! ainda so tenho um rapaz, mas vem outro bebe a caminho e as divisoes de tarefas/ajudas/brincadeiras ja estao a ser integradas no dia-a-dia do rapazola! qd conto que ele ja ajuda com a loica da maquina e afins, ha quem olhe de lado e diga que é muito novo para isso (acabou de fazer 4 anos!) mas ele vai-se orientando egosta realmente de ajudar!
estou a adorar estes posts de “sobreviver a 3 filhos” eu ainda so vou para o 2°, mas faz sempre falta!
beijinhos da costa alentejana para todos e continua com o maravilhoso trabalho do blog!
Gostei imenso deste seu post! Identifico-me muito com a sua forma de pensar e educar. Parabéns, está a criar 3 futuros adultos muito capazes e autónomos, e cheios de amor, de certeza:)
Que interessante, Leonor! Gostei especialmente da parte dos reforços positivos, da maneira como consegues transmitir valores e estrutura aos teus filhos através de acções do dia a dia. Sem ralhar, sem emendar, sem criticar, mas ajudando as meninas a cumprir com tarefas e elas ajudando-te a ti, não porque pedes, mas porque faz parte.
Eu lembro-me de ser pequena e a minha Avó aplicar os mesmo princípios connosco, os três netos. Ajudar nas tarefas da casa fazia parte do nosso dia a dia. Ninguém deixava o quarto para terceiros arrumar, ninguém levava comida para a cama nem deixava a roupa desarrumada. Tínhamos as nossas funções que estavam ao nosso alcance e os adultos tinham as deles. Eu ficava sempre com as meias para dobrar, tínhamos todos umas faquinhas pequeninas quase sem serrilha para ajudarmos a cozinhar, andávamos ali no meio da cozinha e cada um sabia o seu lugar sem ser uma imposição, mas uma maneira de estar na vida. A sensação que perdurou foi a de que fazíamos parte de algo maior do que nós, mas que para todos os efeitos contava também com a nossa contribuição para funcionar.
Beijinho
<3 é isso mesmo, fazê-los sentir que fazem parte da casa, da família, que tudo o que fazemos individualmente ou em conjunto afecta os outros.
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