O parto com que nunca sonhei
Onde há um recém-nascido, há uma história do parto, que quase sempre toda a gente quer saber, com todos os detalhes e pormenores.
Muitas são histórias cheias de peripécias, desde o começo do trabalho de parto, até ao nascimento do bebé. Histórias cor-de-rosa (ou azul, verdes, amarelas), verdadeiros contos de fada (ou não), tão belas como o momento que celebram.
Depois há as histórias como as minhas, que podem ser resumidas numa linha: entrei no bloco operatório, anestesiaram-me, tiraram o bebé e coseram-me. Tenho 3 filhos, todos eles de cesariana, que não foi de todo o parto com que sonhei.
Quando engravidei da L. estava nas nuvens. Não temia nada, estava mais que preparada para gerar aquele bebé e dar à luz, de amamenta-lo e cuidar dele, com toda a naturalidade. Quando muita gente me perguntava se tinha medo do parto, dizia que não. E na verdade não tinha.
No dia 1 de Fevereiro de 2012 às 6h da manhã senti uma dor que nunca tinha sentido antes. Dali a 15 minutos outra vez, e dali a 15 outra vez. Quando liguei para o hospital as dores já estavam de 5 em 5 minutos e foi-me recomendado seguir para lá. Estava de facto em trabalho de parto. Colocaram-me confortável e a partir daí foi uma odisseia para que a bebé descesse e encaixasse. Pus-me de pé, caminhei, fiz exercícios na bola, agachamentos, e o que mais me pudessem sugerir que ajudasse. Mas a bebé continuava subida e não estava a ajudar na dilatação. Ao fim de 16 horas de trabalho de parto e já com indícios de que a bebé estava em sofrimento, foi então falada a fatídica palavra: cesariana. Rejeitei, disse que não, que não queria, que não era para aquilo que me tinha preparado. Mas sem grandes alternativas, fui levada para cesariana de emergência e nasceu a L. Não foi um parto bonito, foi bastante sofrido, doloroso e sem um bebé a chorar. Foi o que mais me custou. Não a vi quando nasceu, não passei a primeira noite com ela. Sofremos muito as duas e isso reflectiu-se nos primeiros dias da L. e nos meus primeiros dias de mãe.
Quando engravidei da T. tinha apenas um desejo no que dizia respeito ao parto. Não queria que este bebé sofresse o que a L. sofreu para nascer e a minha obstetra tinha que me garantir isso. A gravidez sempre foi levada com a expectativa de um parto normal – sim, é possível depois de cesariana ter um parto vaginal -, mas as últimas semanas mostraram-me que afinal a natureza não tinha sido gentil comigo. Já com dilatação e sem uma bebé descida e de face para o canal de parto, previa-se o mesmo desfecho que o parto anterior. Aguentei até onde o meu corpo permitiu e por desejo meu, marquei a cesariana. Culminava assim qualquer incerteza com o diagnóstico: incompatibilidade feto-pélvica.
Aqui, percebi que me faltou um momento fundamental no pós-parto da L. Ainda não me tinha restabelecido comigo mesmo, de ter aceite que todo o meu processo natural tinha sido interrompido, que tinha ficado algo por acabar no dia em que a L. nasceu. Não me tinha mentalizado que tinha que ser assim (ou não), que não houve mais nada que pudesse ser feito. Não tinha descarregado de mim a culpa de a L. não ter nascido como a natureza ditou e como nascem tantos bebés. Era um peso que carregava e que me angustiava. Não estava verdadeiramente preparada para ter outro bebé por cesariana.
Só vários meses depois, de ter as minhas duas miúdas comigo, de as ver felizes, saudáveis a brincar, caí em mim. Se não tivesse sido por cesariana, nunca teria tido a oportunidade de ser mãe, de poder ver aqueles dois seres maravilhosos ali, comigo.
Antes ainda de engravidar do baby-boy já estava reconciliada comigo mesma e já sabia que esse bebé nasceria por cesariana. Ajudou ter conversado muito com a minha obstetra, de ter percebido claramente qual era o meu “problema” e porque dificilmente conseguiria que um bebé meu nascesse naturalmente. Abracei a ideia, mentalizei-me que seria assim e não de outra forma. Na verdade, esta gravidez foi diferente nesse sentido, pois preparei-me para o parto, como nunca me tinha preparado antes. E não falo em aulas, livros, formações. Mas uma preparação muito pessoal e emocional, para aquilo que sabia que teria de passar novamente.
Não é de todo o parto que imaginei que viesse a ter, aquele que sonhei, mas aquele que a minha fisionomia e a dos meus bebés permitiu. Não é um processo fácil, para quem sempre pensou que os seus bebés nasceriam de uma forma natural, mas é um work in progress que melhora todos os dias quando olhamos para eles.
11 Comments
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Poderia ter sido escrito por mim…A menos de 1 semana de uma terceira cesariana, pela primeira vez com data e hora marcada, depois de ter esperado 41 e 42 semanas numa tentativa de desafiar a (minha) natureza. Não sei se estou totalmente reconciliada comigo 🙂 (penso muitas vezes que há 2 séculos estava destinada a morrer em TP:)), mas tenho uns filhos tão fantásticos que, por eles eram mais mil cirurgias.:)
Apesar de ser mae de primeira viagem nem à 3meses, percebo exactamente o que sentiu! Senti exactamente o mesmo!
Tive dores insuportaveis de tolerar que me fez pensar “como alguém que já passou por isto consegue passar novamente!!? Não quero ter mais filhos!!”
No meu caso, o bebe teve uma baixa de batimentos durante o CTG que levou à indução do parto. Mas o meu bebe tb estava muito em cima, praticamente não tinha dilatação e ao fim de 9h em sofrimento, um descolamento de placenta e bebe em sofrimento que levaram a uma cesariana de urgência com anestesia geral!
Choro todos os dias por não ter visto o meu filho nascer… o proximo prefiro que seja logo de cesariana, preferencialmente sem anestesia GERAL para que @ possa ver nascer.
AMO o meu filho, ainda bem para os 2 que foi cesariana, mas esta tristeza vai me acompanhar toda a vida 🙁 o momento que eu esperava e sonhava à 16anos…..
O seu primeiro parto, a sua primeira experiência, são parecidos ao que eu passei (a diferença foi que descobrimos que o meu pestinha estava de face às 38 semanas, e depois de 2 semanas a espera que ele “baixasse a tola” acabamos por partir para a cesariana, marcada a uma sexta e feita a uma segunda). Mesmo sabendo com antecedência que tinha que ser assim, custou muito, pois também estava super contente por “fazer as coisas como seria suposto”. E mesmo sendo tudo marcado também não passamos a primeira noite, nem mesmo as primeiras 3 semanas juntos (esteve no serviço de neonatologia) … enfim. Expectativas vs. Realidade 😉 beijinhos.
O resultado acaba por ser o mais importante: bebés saudáveis e o resto vem por acréscimo. O meu primeiro parto foi cesariana porque supostamente eu não dilatei ao fim das doze horas mas assim que soube que tinha de esperar pelo menos um ano para tentar o parto natural fiquei logo esperançada. Mesmo assim na altura da dilatação estava a ser muito lenta mas ao fim de 11h lá nasceu de parto normal o meu segundo filho. Confesso que o pós – parto, para mim, foi muito pior o segundo do que o primeiro não só pelas dores que tinha como cheguei a sentir no corpo a falta do sangue que perdi e fiquei bastante fraca. Muitas felicidades e um futuro cheio de saúde! (não consegui amamentar os dois mais de uma semana mas confesso que foi só depois do segundo que me livrei dessa culpa que sentia por não conseguir amamentar, pois era uma coisa que desejava muito mas tb não fui feita para isso…)
A descrição do primeiro parto poderia ter sido escrita por mim, pois passou-se exatamente o mesmo e ainda hoje (11 meses depois) tenho dificuldade em o aceitar. Não sei como será numa próxima gravidez, mas sei que tenho de me preparar muito melhor, pois sempre achei que teria parto vaginal e apenas me preparei para isso durante a gravidez. Foi um choque ter de fazer cesariana do qual ainda estou a recuperar.
Antes de mais parabéns pelos 3 filhotes!
Revejo-me tanto nesta descrição…. eu também tive um parto com que não sonhei, não foi nada fácil e ainda andei muito tempo a travar uma batalha interior.
Mas quando engravidei da minha 2ª filha já sabia que teria de ser cesarina precisamente por incompatibilidade feto-pélvica e pelo risco de já ter uma cesariana anterior há pouco tempo. Portanto, acabou por ser marcado o dia e lá fomos … E independentemente de eu preferir ter tido outras experiências de parto, não sendo possivel, acabou por ser muito mais tranquilo.
Por isso, mais uma vez Parabéns e obrigada pela partilha.
Podia ter sido escrito por mim…. mas com uma cesariana a menos…
da minha primeira a filha tive de marcar a cesariana, ela estava sentada e a medica não queria arriscar um parto pélvico! marcamos a cesariana com 15 dias de antecedência ( 15 dias pois eu tentei adiar o maiss possivel) e chorei os 15 dias a pensar que não ia ter uma parto como manda a mãe natureza! logo eu que sempre tinha dito que a natureza está muito bem feita! Como é que era possivel a natureza estar bem feita e eu não conseguir ter um filho da forma que era suposto acontecer?1
Da segunda vez mentalizei-me logo que iria ser cesariana ( apesar da medica me dizer que eu não podia dizer logo isso pois não se sabia como ia evoluir). As 37 semanas estava tudo encaminhado para ser parto normal! a bebé estava de cabeça para baixo, na posição correcta! foram duas semanas em que me senti nas nuvens, finalmente iria ter o parto com que sempre tinha sonhado! mas as semanas foram passando e ela não descia… fomos caminhar, subimos e descemos escadas, namoramos, estragamos a bola de pilates…tudo… chegava de novo a hora de decidir quando a bebé ia nascer… o meu mundo desfez-se, as lágrimas vieram aos olhos e pedi por favor para ser o mais tarde possivel, a esperança era a ultima a morrer certo? e lá se marcou para as 41+4 dias… as 41 começam as contracções e lá no fundo nascia uma esperança que talvez com as contracções, talvez assim ainda fosse ter um parto normal! mas não, a dilatação não aconteceu, a bolsa rompeu e lá fomos nós de novo para o bloco operatório…
o meu pensamento foi ” se tivesse nascido um século antes a esta hora já estava morta, provavelmente teria morrido quando a 1ª nasceu! caso me tivesse safado e a bebé também desta não me safava e morreria de infecção com a minha bebé morta dentro de mim”
sim sei que é um pensamento terrível, mas foi o que tive, naquele momento ( e até hoje ainda o tenho em alguns momentos) não percebo porque é que não fiz dilatação, porque é que a primeira não deu a volta, que erros cometi ( sei que não fiz nada errado mas por vezes não sei) o que podia ter feito diferente… e depois olho para elas! e agradeço a Deus não ter nascido um século antes e ter a oportunidade de ainda aqui estar e ver as minhas filhas crescer
Boa noite. Fui mãe há 6 meses. A gravidez correu lindamente mas inchei imenso. A partir do 5o mês já estava enorme… Às 38 semanas, a obstetra viu que o menino estava muito subido e avisou-me que dificilmente teria um parto normal. Eu não quis acreditar, nessa semana fui ouvir outras opiniões e infelizmente todos concordavam. A custo, depois de muito choro, lá marquei a cesariana para a primeira segunda feira após as 39 semanas. Nessa semana caminhei como doida, era importante para mim, pelo menos, entrar em trabalho de parto. Quis Deus que o meu menino entendesse nascer no domingo véspera da cesariana marcada e assim, na hora de sair para a missa, rebentaram-me as águas. Claro que a missa ficou por ir, e fomos para a maternidade após ligar à obstetra. Sinceramente, chorei a minha alma quando soube que não conseguiria fugir à cesariana, e na maternidade, ainda perguntei à enfermeira se daria para um parto normal… Mas claro, não havia dilatação nenhuma, zerinho, colo super fechado e, ao fim de 5 horas, lá fiz a cesariana. O meu marido assistiu a tudo e viu o nosso menino nascer. Eu fui anestesiada por precaução ja que as minhas tensões dispararam no bloco. Quando despertei e vi o meu filho… Chorei de felicidade. Ele estava ali, real, toquei-lhe, abracei-o, cheirei-o, contei dedos, orelhas, etc e fiquei em paz comigo. Tinha nascido saudável e isso era o mais importante. Consegui amamentar desde o início. Ainda amamento. Graças a Deus e a muita persistência minha. Nunca mais pensei no parto, fiz o melhor para garantir que o meu filho nascesse bem e em segurança. Agora só me preocupa cuidar de mim para poder cuidar dele muitos anos.
Uma opinião completamente diferente da tua e das que li… nunca sonhei com um parto vaginal, aliás o meu maior medo sempre foi ter um parto vaginal. Detesto o imprevisto e o que não consigo programar, a minha cesariana marcada as 39 semanas foi o melhor para mim. Vi a minha bebe nascer ,ouvi o primeiro choro, cheirei-a, foi tal e qual como imaginei! Ah e o mais importante para mim, sem imprevistos, sem sofrimento para a bebe e sem dor. Bjinhos
[…] mim era imperativo amamentar. Tive todos os meus filhos por cesariana. Foi o parto que eu nunca sonhei e que teve de acontecer (por incompatibilidade feto-pélvica). Na […]
Tive o meu por cesariana, que já sabia que seria devido a um problema de saúde meu. Foi tranquilo durante a gravidez, não me sentia assustada com a ideia da cesariana, mas na hora, quando estava lá sentada na poltrona do bloco operatório com os anestesistas a preparar-me ( foi anestesia geral) comecei a ficar assustada de tal maneira que só queria chorar e fugir e nem o meu marido podia estar lá ao meu lado, acho que teria ajudado muito a acalmar-me. Consegui conter-me e lá nasceu o meu príncipe. A recuperação foi super dolorosa e os primeiros tempos difíceis psicologicamente com uma depressao pelo meio. Até chegar ao penso de olhar para este pequeno ser e ver que o importante é que tudo corra bem, e cada vez que olho para ele o medo vai embora. Agora estamos a tentar o segundo, penso que o parto será cesariana mas como já não será em Portugal nem sei quais são os critérios lá … de qualquer maneira ao ler o seu texto identifiquei-me pois sinto que desta vez estou com outra mentalidade, o pós parto será diferente, sinto-me mais preparada, penso. O que me assusta agora é o parto, mas na altura logo veremos. Beijinhos e tudo de bom para si