Para maiores de 6 meses
Quem acompanha o blog, já percebeu que não publico receitas com idade inferior a 6 meses e quase se pode dizer que o blog é só para maiores de 6 meses. Não é por acaso e está fortemente relacionado com a minha convicção sobre a idade a que se deve iniciar a alimentação complementar do bebé.
As recomendações actuais apontam para o leite materno como o melhor alimento para um bebé nos primeiros meses de vida, em modo exclusivo nos 6 primeiros meses, e em modo parcial com a alimentação complementar. É também da convicção da OMS (Organização Mundial de Saúde), que salvo raras excepções, qualquer mulher tem capacidade de amamentar o seu filho, se lhe forem dadas todas as informações e aconselhamento especializado nesse sentido. Caso não haja a possibilidade de amamentar um bebé, este deve ser alimentado com leite adaptado, apropriado à idade e condição do bebé.
A grande questão que se coloca, é quando iniciar a alimentação complementar, quando interromper a exclusividade do leite. As opiniões dividem-se e cada vez mais profissionais de saúde recomendam o início da alimentação complementar aos 4 meses. Apesar de se crer que alguns lactentes já estejam preparados para receber outros alimentos para além do leite nessa idade, é da opinião generalizada (tanto da OMS como da Sociedade Portuguesa de Pediatria), que a idade ideal para a introdução da alimentação complementar, deve acontecer o mais próximo possível dos 6 meses.
“[…] as recomendações apontam consensualmente para que a introdução de alimentos que não o leite não deve ocorrer precocemente, ou seja, nunca antes dos 4 meses e preferivelmente cerca dos 6 meses de idade. A passagem de uma dieta rica em gordura, característica do aleitamento exclusivo, para uma dieta rica em hidratos de carbono induz, só por si, adaptações hormonais significativas (ex: insulina, hormonas da suprarenal) com repercussões no processo de crescimento e exigências de adaptabilidade digestiva. Na realidade, a partir do 6º mês a maioria dos latentes está preparado, em termos de desenvolvimento e maturação, para aceitar outro tipo de alimentos, nomeadamente na dependência de questões relacionadas com a maturação estrutural e funcional do rim e do tubo digestivo, de características do desenvolvimento motor do lactente e finalmente de questões relacionadas com o treino dos sabores e das texturas.”
in “Alimentação e Nutrição do Lactente”, Acta Pediátrica Portuguesa, vol. 43, nº5 Setembro 2012
Gill Rapley e Tracey Murkett descrevem no seu livro “Baby-led Weaning – Helping your baby to love good food” (2008) que:
“Alimentos sólidos (que não leite) não têm uma densidade de nutrientes e calorias como leite materno, ou leite adaptado. Bebés pequenos têm estômagos pequenos e precisam de uma fonte de calorias e nutrientes concentrada e de fácil digestão para um crescimento saudável; apenas o leite materno ou leite adaptado pode fornecer isso.
O sistema digestivo do bebé não está preparado para absorver todos os benefícios dos alimentos sólidos, pelo que eles passaram sem alimentar devidamente o bebé.
Se o bebé consumir sólidos precocemente, o apetite por leite decrescerá, e por isso receberá ainda menos alimento.
Bebés a que foram dados alimentos sólidos precocemente têm mais infecções e estão em risco de desenvolver alergias do que aqueles que mantêm uma alimentação exclusiva de leite (materno ou adaptado), porque o sistema imunitário é imaturo.
Foi também descoberto, que dar alimentos sólidos a bebés antes dos 6 meses torna-os mais propensos a factores de risco para doença cardíaca em idade adulta, tais como pressão arterial elevada. “
Em suma, os 6 meses não são uma marca aleatória. Cada vez mais se crê que o bebé apenas está preparado para deixar a exclusividade do leite nessa altura, beneficiando tanto a curto, como a longo prazo, do que essa dieta lhe traz.
É nisto que acredito e é baseada nestas ideias que só recomendo receitas e o início da alimentação complementar depois dos 6 meses.
7 Comments
Deixe um comentário Cancelar resposta
Artigos mais lidos
Concordo plenamente. O problema é quando a mãe tem que ir trabalhar aos 5 meses e não há leite materno congelado que dê para sustentar este tipo de alimentação… Será melhor passar para leite adaptado ou iniciar a sopa? Fica aqui a minha dúvida! Obrigada pelo blog,adoro…
Eu não passei por essa experiência, porque tive a oportunidade de amamentar ambas as minhas filhas até aos 6 meses (a mais velha não mamou exclusivamente até aos 6 meses por ignorância minha na altura). Mas creio que as entidades patronais têm que ceder um número de horas diário para a amamentação, não funciona assim sempre?
2h por dia!! O problema é que numa hora não consigo vir a casa,dar lhe de mamar e regressar ao trabalho… Mas pretendo manter a amamentação o máximo de tempo possível (embora não em exclusividade ). Mais uma vez Parabéns pelo blog!
A ideia das 2h por dia não é descabida. Sendo que diariamente uma pessoa trabalha 8h, passará a trabalhar 6 e poderá dividir em blocos correspondentes às rotinas do bebés. Mesmo assim há vários problemas, como o que apontou, ou mesmo a questão da livre demanda, que não é compatível com uma mulher que trabalha fora de casa. Resta-nos manter a luta e fazer ver aos legisladores que ainda há muito mais a melhorar nesta área. 🙂
Tenho a mesma dúvida: se o LM em exclusivo não for possível até aos 6 meses será melhor dar leite adaptado ou alimentação complementar? Estava a pensar introduzir a alimentação complementar na semana antes de completar 5 meses porque irei regressar ao trabalho na semana seguinte mas depois de ler este artigo confesso que fiquei com dúvidas se será melhor dar LA no caso do LM não ser suficiente. Obrigada!
Não consegue extrair o leite? Se eu estivesse nessa situação, tentaria em primeiro lugar extrair e congelar para esses dias. Procuraria ajuda nesse sentido. Em 2º plano, introduziria o LA, mantendo a exclusividade pelo menos até aos 5 meses e meio, 5 meses e 3 semanas. O ideal para a introdução da alimentação complementar é o mais perto possível dos 6 meses.
[…] Há uns que fazem isto bem antes dos 6 meses, outros depois. A grande maioria anda mesmo ali na marca dos 6 meses. Para mim, passou a fazer mais sentido prestar atenção a estes sinais que os bebés dão […]