“Não gosto disso!” #02
Depois de escrever este post, fiquei de falar daqueles “não gostos” que os miúdos dizem depois de comerem um alimento milhentas vezes. Passa-se aqui com a L. e recentemente descobri o porquê.
A L. tem quase 4 anos e expressa-se muito bem. Um dos pontos que trabalho diariamente com ela é que confie em mim e que converse comigo tudo o que precisa, que explique o que a angustia ou entusiasme, que terá sempre alguém compreensivo do outro lado para a escutar, sem a julgar. Assumo à partida que ela é um ser inteligente e que não toma decisões aleatoriamente. Há sempre uma razão, um motivo. É isso que busco, quando algumas das decisões dela me deixam intrigada, como é o caso deste “não gosto” de certos alimentos, que antes comia tão bem.
Há um caso muito particular com a L., que é o kiwi e os citrinos. Quando a L. começou a comer estes alimentos, eram os preferidos! Podia passar dias a comer só kiwi, laranja e tangerinas. Não ligava nenhuma à banana, nem à maçã (aliás não aceitava estas duas frutas) e o resto das frutas ia comendo. Variava muito as frutas (intercalando aquelas que comia melhor com as que comia pior), para que percebesse que havia muita oferta e que tínhamos muito por onde escolher, mas quando calhava dar kiwi ou citrinos ela comia com grande entusiasmo.
Certo dia começou a dizer “não gosto” ao kiwi e aos citrinos. Achei que era uma fase e que um dia voltaria a aceitar. Mas não, já lá vão largos meses e ela continua a dizer que não gosta. Dei voltas e mais voltas, li artigos, procurei incansavelmente porque razão ela comia tão bem e agora dizia que não gostava. Até que parei, virei-me para ela e perguntei.
– Conta-me, porque dizes que não gostas de kiwi e laranjas?
– Porque não gosto.
– Não é bem assim, porque antes tu comias muito bem estas frutas e agora dizes que não gostas. E comes laranjas na escola, que eu sei.
– Sabes mãe, é porque eu gosto mais de maçã do que kiwi. E gosto mais de bananas que laranjas. E gosto mais de pêras que tangerinas…
Mistério desvendado e era tão simples como “prefiro esta fruta aquela”.
Às vezes é difícil para eles perceberem e explicarem exactamente o que sentem em relação a certas coisas, como é o caso da L. com o kiwi e os citrinos, e o “não gosto” é rápido e eficaz. Quando na verdade há algo mais profundo, como simplesmente preferir uma coisa em relação a outra, seja um alimento, um brinquedo ou uma actividade. Estão a mudar os gostos e a seleccionar as suas preferências. E quem não as tem? Eu também prefiro maçãs a kiwis, porque não há-de a L. preferir também? Não impede que coma de vez em quando, nem justifica que se tire de vez da alimentação.
A minha sugestão: não intensificar este “não gosto”. Ou seja:
1. não enfatizar essa ideia, retirando o alimento de vez de casa, ou deixando de oferecer;
2. não evidenciar junto de outras pessoas que a criança “não gosta”;
3. tentar que a criança aplique vocabulário mais positivos, como “eu prefiro esta fruta a esta”;
4. compreender que é uma preferência, que a criança até come, mas prefere outros alimentos e tentar fazer perceber isso à criança, quando pode não ser claro para ela.
Depois, podem sempre oferecer o alimento noutras formas. A L. bebe sumo de laranja natural, come kiwi em saladas de frutas, ou sumos de frutas, petisca tangerina das caixinhas de snacks que preparo. Mas se tiver poder de decisão sobre o que come no final da refeição, essa reacairá noutras frutas da sua preferência, e isso não faz mal 🙂
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