Segunda Sem Carne, mas com… #10
Conheci o blog da Joana, Just Natural Please, há pouco tempo, mas o suficiente para seguir avidamente e deliciar-me com as dicas e receitas.
A Joana é vegana há 2 anos, associado ao veganismo dela tem uma vertente crudívora, que, para quem não conhece, consiste em ingerir os alimentos crus. Como sou muito curiosa nestas temáticas, convidei a Joana a apresentar uma receita vegetariana, com o desafio de ser crudívora! Seria uma estreia aqui no blog, nesta rubrica, será que ela aceitou?
LC – És a primeira blogger crudívora e vegana que sigo (nem sei dizer se há muitas). Qual a mensagem que tentas passar através do teu blog?
Joana (J) – Antes de mais deixa-me esclarecer que não sou 100 % crudívora. Aliás, a grande maioria das receitas que faço para o meu blog não são crudívoras. Fui totalmente crudívora durante 3 – 4 meses quando descobri o veganismo e a alimentação crudívora mas depois voltei a introduzir alguns alimentos cozinhados, pois apesar de me sentir muito bem comendo apenas frutas e vegetais crus não fazia muito sentido para mim deixar de fora muitos alimentos que só podemos comer cozinhados, como arroz, batata, leguminosas secas, etc. Geralmente como fruta e vegetais crus durante o dia e ao jantar junto alguma coisa cozinhada, sempre de forma muito simples (sem gordura adicionada, sem sal, sem grandes temperos), a uma grande salada. A mensagem que tento passar com o meu blog é que os alimentos que a terra nos dá, no seu estado bruto e integral, devem ser a nossa primeira opção para viver com saúde e vitalidade e que devemos evitar tudo o que é refinado, processado e transformado. Quero também passar a ideia de que o prazer à mesa vai sempre existir. É tudo uma questão de tempo e persistência até o paladar se habituar à alimentação saudável e “limpa”.
LC – Como foi a reacção da família e amigos à tua decisão de mudança de estilo de vida? Sentes que essa opção afectou as tuas relações sociais?
J – Felizmente todos à minha volta (família e amigos) me apoiaram na minha decisão de seguir este estilo de vida. Noto que confiam em mim e nas minhas decisões e por isso aceitaram a minha mudança sem qualquer crítica. Para isso também ajuda o facto eu própria tentar não fazer juízos de valor em relação ao que eles comem e por isso o respeito é mútuo. Acredito que mostrar que nos sentimos bem, felizes, com energia e com menos problemas de saúde é a melhor influência que podem ter e com o tempo noto que, quer a minha família quer alguns amigos, começam a interessar-se mais por alimentação saudável e veganismo e a fazer algumas alterações nos seus estilos de vida, o que me deixa muito feliz. A nível social, houve um período de adaptação e de aprendizagem mas agora faço uma vida social normal, como fazia antes. Em jantares fora há quase sempre opção, sobretudo se pedirmos com gentileza. Em casa de amigos, ou eu levo alguma coisa para comer e para partilhar ou eles próprios já preparam pratos que eu também possa comer.
LC – O que sentes que as pessoas no geral pensam sobre o vegetarianismo/veganismo e o crudivorismo? Penso que sobretudo este último tema é ainda muito desconhecido pela maioria das pessoas.
J – O vegetarianismo já é bastante conhecido e com muitos adeptos (embora me entristeça um pouco ver que muitos vegetarianos vivem à base de queijo, ovos e batidos proteicos, continuando a deixar os vegetais para seguindo plano). Agora o veganismo ainda não é muito bem compreendido e há ainda uma certa confusão na cabeça das pessoas. Acho que muita gente ainda associa o veganismo a um movimento “hippy” ou algo do género. O crudivorismo em Portugal é relativamente recente e acho que apenas uma minoria das pessoas já ouviu falar sobre ele. Ultimamente tenho observado mais divulgação sobre estes temas e uma mudança de mentalidade muito positiva, mas ainda há um longo caminho para percorrer e muitos mitos para quebrar. Mas acredito que com o tempo, cada vez mais as pessoas se vão aperceber que o veganismo é uma opção fácil, barata, ecológica e ética para viver a vida com mais saúde, com mais energia e vitalidade e com mais respeito pelo ambiente, pela natureza e por todos nós.
LC – Conhecias as meatless mondays, ou segundas sem carne? O que pensas deste movimento?
J – Sim, conhecia. Acho que a primeira vez que ouvi falar foi no talk show da Oprah. Acho uma ótima iniciativa e dou-te os parabéns por incluíres esta iniciativa no teu blog. Acho um bom ponto de partida e penso que pode ajudar muita gente a experimentar pratos vegetarianos e veganos, a ganhar gosto pelos vegetais, a habituar o paladar e a se aperceber que continua a haver prazer numa mesa vegana. O que me preocupa é que com este movimento se instale a ideia de que desde que se faça uma “meatless Monday” por semana está tudo ok, o que é errado. A nossa alimentação precisa de uma mudança de paradigma urgente para fazer face às alterações climáticas e ambientais que se estão a verificar. Muita gente não sabe, porque é assunto tabu, mas a maior causa de emissões de gases tóxicos para a atmosfera e a maior causa de desflorestação da floresta amazónica é produção de animais para consumo humano. Cerca de 70 % da agricultura realizada no globo terrestre destina-se à alimentação de animais para nós consumirmos. Todos esses recursos dariam para alimentar sete vezes mais pessoas se nos alimentássemos diretamente do que vem da terra. Isto para não falar no aspeto “saúde” e em como a grande maioria das doenças de que sofre a sociedade ocidental são causadas por excesso de proteína animal, muitos produtos refinados e com aditivos alimentares. Depois do anúncio da OMS sobre a relação entre a carne e o cancro, muitos vieram apaziguar a mensagem dizendo que comendo “com moderação” não há problema. O problema é que a comum “moderação” é ainda um grande excesso. A proteína animal continua ainda a ser vista como o centro do prato e os alimentos de origem vegetal continuam a ser vistos como o acompanhamento. Quantas vezes ouvimos dizer às nossas crianças “pelo menos come a carninha, podes deixar o arroz…”? Os alimentos de origem vegetal têm que passar a ser a base da nossa alimentação e a proteína animal tem de passar a ser secundária. Por isso, na minha opinião as “Meatless Mondays” deveriam estender-se a mais dias da semana de forma banal.
Quanto à receita deixada, a Joana explica…
A receita que preparei para ti e para os teus é uma Lasanha Crudívora de Natal. Apesar de Lasanha não ser o primeiro prato que nos ocorre quando pensamos na ceia de Natal, esta Lasanha tem as cores do Natal e é carregada de sabores e texturas reconfortantes. Além disso, achei que seria uma boa estratégia para incorporar mais vegetais “na cadeira da papa”.
“Espero que tu e a tua família gostem desta experiência vegana crudívora! Muito obrigada pelo convite para estar “Na Cadeira da Papa” e um Natal cheio de alegria, saúde, amor e uma mesa recheada de coisas boas para vocês!”
Estou super entusiasmada para experimentar esta receita! Obrigada nós, Joana.
- 1 chávena de Cajús Crus (~140 g), demolhados em água durante 1 hora
- 2 colheres de sopa de Levedura de Cerveja (é opcional mas dá um sabor agradável a queijo)
- 1 colher de sopa de Sumo de Limão
- 1 dente de Alho (opcional, pode ser substituído por alho em pó)
- 2 colheres de sopa de Salsa Fresca picada
- 1/3 chávena de Água
- 1 pitada de Pimenta Preta (opcional)
- 1 pitada de Flor de Sal (opcional)
- ½ chávena de Tomates Secos ao Sol (de preferência sem sal e sem óleo), demolhados em água durante 1 hora
- ½ chávena de Bróculos (apenas os raminhos tenros)
- ½ chávena de folhas de Manjericão fresco
- ½ chávena de Pinhões (~25 g)
- 1 colher de sopa de Azeite Virgem (opcional)
- ½ colher de sopa de Sumo de Limão
- ½ colher de chá de Orégãos secos
- 1 pitada de Pimenta Preta (opcional)
- 1 pitada de Flor de Sal (opcional)
- 1 Curgete média, cortada em fatias finas com o mandolim ou faca
- Tomates Cereja, cortados ao meio
- Raminhos de Brócolos
- Folhas de Manjericão
- Colocar os cajús numa tigela e adicionar água e deixar de molho durante cerca de 1 hora. Fazer o mesmo com o tomate seco.
- Depois de demolhados, escorrer os cajús e colocá-los no processador juntamente com os restantes ingredientes para o creme, exceto a água e a salsa. Processar até formar um creme homogéneo, adicionando a água aos poucos até obter a consistência desejada (utilizei 1/3 chávena).
- Adicionar a salsa e pulsar para incorporar. Corrigir temperos se necessário. Reservar.
- Depois de demolhados, escorrer os tomates e colocá-los no processador. Adicionar os restantes ingredientes exceto os raminhos de brócolos. Processar até formar uma pasta. Adicionar uma colher de sopa de água se ficar demasiado espesso.
- Adicionar os raminhos de brócolos e pulsar para incorporar. Corrigir temperos de necessário. Reservar.
- A lasanha pode ser preparada individualmente em cada prato ou num recipiente conjunto. Começar com uma camada de curgete e adicionar uma camada de creme de cajú. Colocar uma fatia de curgete sobre o creme e adicionar uma camada do pesto de tomate e brócolos. Repetir o processo, terminando com uma camada de creme de cajú.
- Decorar a lasanha a gosto com folhas de manjericão, raminhos de brócolos e metades de tomate cereja. Servir de imediato ou deixar intensificar os sabores durante cerca de 30 minutos.
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2 Comments
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Ficou linda a lasanha. E de sabor deve estar óptima. Boa sugestão. Obrigada pela partilha sua e da Joana.
Bjinhos
Tânia Tiago
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