Se perguntarem a uma mãe o que mais deseja para os seus filhos, para além que tenham saúde e sejam felizes, a grande maioria responderá “quero que coma bem”. Eu sei, porque era essa mãe. A saúde e felicidade das minhas filhas é o mais importante. Mas existe esta ideia antiga, que se um bebé ou criança comer bem, será mais saudável e feliz. Acabam por ser ideias indissociáveis, e, por mais relaxadas, ou não, que sejam as mães, vai sempre gerar alguma preocupação. Concluir “o meu filho não come bem” pode ser verdadeiramente angustiante para muitos pais.

Leio e oiço com frequência desabafos de mães, que dizem que os filhos não comem bem. Mas o que será isto de não comer bem? Há pessoas que dizem que a L. não come bem… em bem dizer, a L. não come muito, come o suficiente, e come bem no sentido em que faz boas escolhas alimentares. E como sabemos se come o suficiente? Usamos o olhómetro: está feliz, bem disposto, é activo, dorme bem. São as coisas que procuro nas minhas filhas, e que me garantem que estão bem. 

O que eu entendo por “comer bem” dava para escrever uns dois ou três posts, mas hoje quero só deixar algumas ideias para reflexão, que espero que possam ajudar algumas mães em “desespero” por o filho não comer bem.

1. A primeira ideia que temos de ter bem presente, antes de mais, é que no primeiro ano de vida eles são lactentes e a comida é alimentação complementar. Com isto quer se dizer, que o leite é o alimento primordial, e que tudo o resto são ferramentas para construir uma boa relação entre o bebé e a alimentação futura. Claro que uma sopa alimenta, um naco de pão ou um pedaço de fruta, mas não faz mal esperar que assim não o seja. Muitos bebés mostram relutância a outros alimentos para além do leite. Uma situação que pode durar bem além do primeiro ano de vida, mas não faz mal! Têm o leite e gradualmente vão se interessar pelos diferentes alimentos. Por isso, não faz sentido forçar e obrigar um bebé a comer.

2. O tacto é um sentido muito usado pelos bebés. Gostam de tocar, apertar, sentir, é uma das formas com que conhecem o mundo. Como vamos esperar que aceitem uma coisa que lhes estamos a dar, sem a sentirem primeiro? Nesta perspectiva o Baby Led Weaning é uma boa abordagem de exploração de alimentos. Eles podem mexer, esmagar, esfregar, e quem sabe, levar à boca, lamber, morder, trincar. É um processo, mas acreditem, nada os entusiasma mais que serem eles a controlar e decidir, quando vão dar uma dentada naquele pauzinho de cenoura.

3. Acredito que para muitas mães, a ideia acima não seja a mais atractiva. Quem é que quer uma máscara capilar de brócolos? Ou um tratamento de limpeza para o chão à base de cenoura? Acredito que numa forma diária, o Baby Led Weaning pode ser bastante cansativo… para a mãe, que tem de limpar cadeira, chão e envolvente (aqui calham paredes às vezes) e o bebé. Mas há outras formas de entusiasmar o pequeno pisco, oferecendo sopas de diferentes texturas e sabores, e até as açordas e papinhas. Sobretudo a açorda, farinha-de-pau e papas de milho, podem ser bem trituradas para os bebés mais “preguiçosos” a engolir, mas as texturas mais densas, podem motivar o bebé a praticar a mastigação. E gradualmente transitar para o arroz, a massa ou outros cereais. Vamos colocar-nos no lugar deles. Se estivéssemos 3 ou 4 meses a comer sopa todos os dias, duas vezes ao dia, iríamos agradecer uma coisinha nova para variar. 

4. Não acredito que distrair um bebé para que coma, seja a solução. E qual a necessidade disso? A meu ver, colocar uma televisão, um brinqu
edo, ou um palhaço em frente ao bebé enquanto come, não é benéfico em nada. Em primeiro lugar, o bebé não se foca no que é importante: a comida. Não explora visualmente os alimentos, não associa cores e formas a paladares. Tudo isso é importante e basilar numa boa alimentação. Depois pode acontecer uma de duas coisas: ou a criança quer ver a televisão e não aceita alimentos mais sólidos, sob a penalização de perder 3 segundos do desenho animado para mastigar; ou a criança desenvolve a capacidade extraordinária de conseguir comer e ver televisão ao mesmo tempo, ou seja, comer sem controlar porções. Para mim, é importante que o bebé se foque no acto de comer, perceba o que está a fazer, para que possa mostrar todo o mundo divertido e fascinante que existe por detrás da comida. 

5. E deixá-los treinarem o uso da colher? Muitos bebés gostam de comer com uma colher na mão (é a nova moda cá em casa da T.). Não considero uma “distracção” no verdadeiro sentido da palavra, porque no fundo estão a construir conhecimento e aptidões para utilizarem aquele instrumento adequadamente. E quem sabe um dia são eles que enfiam a colher na taça, e controladamente levam à boca e comem. 

6. Relaxar e aceitar que por vezes os bebés não querem comer, ou não têm apetite. E quem quer criar pequenos robots que aceitam tudo o que lhe enfiamos na boca? Há que respeitar quando não gostam da comida (vocês gostam de tudo o que comem?), ou que simplesmente não lhes apetece, ou que queiram apenas reivindicar um pouco em relação ao mundo! Há que abraçar a sua individualidade e personalidade, para que se possam expressar livremente nas mais diferentes formas. 

E se não comem muito naquela refeição, encurta-se o intervalo para a seguinte. O que é preciso é muita paciência e persistência. E poucas pressas para que comam tudo e de tudo! Importante é manter a consistência e segurança em todo o processo. 

 

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