Manual de Alimentação Saudável dos 0-6 anos (DGS) | Episódio 2.04
No passado dia 16 de Outubro, a Direção-Geral de Saúde (DGS) lançou o Manual de Alimentação Saudável dos 0-6 anos. Este manual visa uniformizar as recomendações e práticas relativamente a alimentação infantil, no sentido da criação de hábitos e comportamentos saudáveis.
Há que salientar que o manual não é totalmente baseado em evidência científica, tal como mostra a nota introdutória.
Ao longo do documento mistura-se a procura pela evidência científica mais recente com a experiência pessoal e profissional dos envolvidos (…)
Ou seja, parte do manual é sustentado por ciência e factos, mas existem pontos que são a visão e opinião dos intervenientes no manual. É com esta ideia bem presente que devemos ler e analisar este manual.
O Manual de Alimentação Saudável dos 0-6 anos da DGS
Pontos positivos
É de louvar a iniciativa na criação deste manual, de modo a uniformizar as recomendações dadas por profissionais de saúde, como também criar uma maior sintonia entre os hábitos implementados em casa e na escola. O manual responsabiliza mais a escola pela a solidificação de bons hábitos e comportamentos alimentares, lançando algumas orientações.
De uma forma geral, o manual assenta na premissa correcta, de que alimentação infantil deve basear-se em:
- alimentos da Roda dos Alimentos
- sem alimentos processados (por exemplo: bolachas)
- sem alimentos com adição de açúcar e/ou sal
Esta deve ser o conceito global que nos guia na tarefa de alimentar os nossos filhos.
Outro ponto altamente positivo é a referência ao exercício físico, para um bem estar global da criança. Muitas vezes assentamos a responsabilidade da saúde dos nossos filhos exclusivamente na alimentação, mas o exercício físico e o tempo que passam sentado e em movimento, é uma peça chave para uma criança saudável.
Um ponto que me deixou genuinamente feliz de ler, foi o incentivo da participação das crianças na cozinha.
O envolvimento das crianças na preparação das refeições parece ser um método fácil e eficaz na promoção dos bons hábitos alimentares, sobretudo em casa, dado que a atenção que se presta à criança é obviamente maior.
Quem segue o Na Cadeira da Papa, sabe que este é um ponto que eu insisto muito, porque sei, não só por mim, mas por outras pessoas e meios, que é uma forma altamente eficaz de educação alimentar das crianças.
Pontos menos positivos
Não posso considerar pontos negativos, mas sim coisas que efectivamente podem ser melhoradas e rectificadas para futuras edições do manual.
Algumas recomendações do manual são feitas assentes na opinião dos envolvidos do manual, sem suporte científico e sem uma visão imparcial, para que seja feita uma livre escolha de posição. O caso mais caricato é da recomendação das papas “industriais” em detrimento das papas “bio” e das papas “caseiras”. O manual indica que estas duas últimas são 2nutricionalmente inseguras”, mas sem qualquer suporte científico. Não se provando malefício nas papas “bio” e papas “caseiras”, que o manual tenta menosprezar, seria importante um manual deste tipo tomar uma posição neutra, educando os leitores do manual para uma boa prática de preparação destas papas. Na minha opinião, isso ficou a faltar neste documento.
Também, esta recomendação de papas “industriais” contraria a premissa do documentos: estas papas não fazem parte da roda dos alimentos e contêm, na sua maioria, açúcares adicionados.
Outro ponto que se mostra muito confuso, são as recomendações relativamente à regulação de apetite das crianças. O documento frisa que estas são capazes de gerir o seu apetite e saciedade sozinhas e que devemos confiar nelas. Contudo, insiste em medidas que não são compatíveis com esta ideia, como o controlo de porções e a não permissão de repetições, e a limitação de tempo total da refeição (que deve ser menor que 30 minutos). Estas orientações não são compatíveis com premissa da auto-regulação.
O documento é muito extenso e completo, embora necessite mais neutralidade e clareza em algumas orientações. Eu recomendo a leitura e o seu uso, para quem necessita de intervir nos hábitos alimentares de escolas (que é algo que me pedem muito).
Podem descarregar o manual aqui
Neste episódio referi:
- Orientações do ESPGHAN relativas à alimentação complementar
- Introdução da alimentação complementar – guia
- Cozinhar com crianças suja? | Episódio 2.02
- Querido, Montessori-ei a cozinha!
- Bolo de Iogurte – com instruções para crianças
- 18 papas sem açúcar para bebés que pode encontrar no mercado
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6 Comments
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Olá!
Adorei o episódio!
Dúvida, sou eu que não encontro a tal lista das papas? Gostava muito de ver!! Obrigada!
Olá! Faltou-me esse link, mas já coloquei 🙂
Olá! Falas de uma lista das papas sem açúcares adicionados. Podes partilhar o link? Obrigada
Olá! Faltou-me esse link, já coloquei na lista links do episódio.
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