Cozinhar com crianças suja? | Episódio 2.02
Há dias coloquei na minha conta de Instagram imagens dos meus filhos a cozinhar. Perguntei na mesma publicação, quais as dificuldades que as pessoas sentiam ao cozinhar com crianças. A resposta mais dada foi: não cozinham porque sujam-se e sujam tudo; seguido de magoam-se, caindo, cortando-se e queimando-se.
Cozinhar com crianças é perigoso?
Começando pelo fim. Cozinha com uma criança, não implica ter que a empoleirar numa cadeira, para que chegue aos balcões. Podemos colocar uma pequena mesa à sua altura, para que se movimente livremente no chão, sem riscos desnecessários.
Em segundo lugar, cozinhar não implica o uso de facas e o risco de cortes. As crianças podem lavar alimentos, partir com as mãos, misturar, amassar, etc, tarefas que não necessitam de lâminas. Deixamos essas para as crianças mais velhas e com melhor destreza manual.
Por fim, o que seriam das saladas, se só cozinhássemos com fogão e forno? Há imensas actividades em que os miúdos podem participar, que não implica o uso de fontes de calor. Consoante crescem e vão sendo mais cuidadosos, podemos introduzi-los ao fogão e forno, sempre tendo em conta as suas aptidões e força. Por exemplo, uma criança não consegue tirar um tabuleiro de 12 queques do forno sem se queimar ou deixar cair, mas se calhar um tabuleiro com 4 ou 6 queques, já é possível.
E a sujidade?
Em relação à sujidade percebi duas coisas. Primeiro, se criamos as condições certas para as crianças cozinharem, o nível de sujidade desce drasticamente. Isto é semelhante ao que fazemos com a autonomia na alimentação. Assim como percebemos facilmente que um bebé de 6 meses não conseguirá comer um prato de sopa de forma autónoma, sem tomar um banho de sopa, também temos que perceber o que as aptidões e destreza dos mais novos permite fazer na cozinha.
Ou seja, dificilmente uma criança de 18 meses conseguirá medir uma chávena de farinha, sem transformar a nossa cozinha na Serra da Estrela, do quão branca que ficará. Mas se aos 18 meses permitirmos que meçam uma chávena de feijão, dali a uns meses uma chávena de arroz, depois de cuscuz… é muito provável que aos 2 ou 3 anos, consiga medir uma chávena de farinha, sem grande sujidade.
A segunda coisa que percebi com a questão da sujidade, quando cozinhamos com crianças, é que há graus de tolerância, em relação à sujidade. O que quero dizer com isto? Pegando num exemplo banal do desfralde, sinto que as pessoas no geral têm maior tolerância para uma criança que faz xixi nas calças e no chão, durante o desfralde, porque consideramos que faz parte da aprendizagem e desenvolvimento da criança; contudo, não existe essa compreensão, quando uma criança suja a comer ou a cozinhar, como fazendo parte da educação alimentar desta.
Achei que iria conseguir chegar a alguma conclusão com a minha reflexão, mas não cheguei. Por isso, peço a vossa ajuda para tentar decifrar este enigma:
porque são alguns tipos de sujidade nas crianças mais toleráveis que outros?
Deixem-me as vossas opiniões em comentário, por mensagem, ou e-mail. Estou curiosa por saber tudo!
Neste episódio referi:
- Torre de aprendizagem montessoriana
- Como sobreviver a 3 filhos #02
- Como oferecer alimentos para que os bebés comam de forma autónoma
- Faca para criança (a partir dos 8 anos)
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7 Comments
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olá!
onde compra a estrutura de madeira para os miudos ficarem de pé a cozinhar?
obrigada
Olá! Veja se este post ajuda: https://www.nacadeiradapapa.com/2018/07/torre-de-aprendizagem.html
Ola Leonor,
ouvi este episódio de se sujar a cozinhar e é verdade que é uma questão bastante interessante o porquê de alguma sujidade não incomodar e outras sim. Posso estar a dizer uma grande asneira, mas além da nossa preguiça em limpar algo que pode ser “evitável” (como disse em relação ao xixi torna-se inevitável porque supostamente acontece sempre alguma vez, já estamos meios preparados para isso, cozinhar com crianças basicamente é sujidade que não é “precisa”) acho que as nossas “heranças” (digo relacionado à bagagem de (des)informação que trazemos connosco dos nossos pais e das gerações anteriores) também têm uma influência. Pelo menos quando faço certas coisas com os meus filhos, oiço muitas vezes a minha mãe dizer-me que aprende muito comigo (coisa que admito não estava a espera de ouvir, ahah) e diz que se arrepende de na altura que foi conosco ela não ter tido a “capacidade” para pensar diferente do mundo. Não sei se consigo passar a mensagem, mas na altura dos meus pais, a geração dos meus avós deixava os filhos trabalharem cedo, mas era mais uma questão de mão de obra do que propriamente ajuda na aprendizagem (isto é a minha opinião em relação a tudo o que oiço) não sei até que ponto esta ideia de deixar fazer as crianças para ajudar no desenvolvimento não acaba por ser uma ideia, vamos dizer “nova”, na educação como tudo o que vai aparecendo com a parentalidade positiva. Não sei se ajudei, nem se consegui passar a mensagem, ahah, mas sempre é uma ideia a mais para esta questão.
Um muito obrigada por estes podcasts tão interessantes.
Um beijijnho
Mélissa
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Olá.
Respondendo à questão colocada no final do episódio, penso que como adultos temos mais dificuldade em aceitar alguns tipos de sujidade do que outros, porque na nossa cabeça a criança suja “com intenção ou não”. Ou seja, quando faz xixi nas cuecas, ou molha um tapete, automáticamente achando que é um descuido e coitadinha, fez sem querer. Agora quando ela está a comer e atira um alimento para o chão, achamos que ela está a sujar e a estragar comida de propósito. Confesso que no meu caso, conforme os dias tolero muito bem toda a sujidade do mundo (calma lá, não pode haver farinha no tecto!), e noutros dias, principalmente na altura das refeições, já me custa mais. E nestas alturas, quase que oiço a voz da minha mãe a dizer “não se estraga comida, olha os meninos em África que não têm nada para comer!”. Enfim.
Oh Leonor a minha mais velha descasca cenouras com o descascador desde os dois anos porque era a forma que tinha de estar com ela depois do trabalho, então cozinhavamos juntas.
Ainda hoje a bebé come com as mãos e eu vou ajudando com a colher, fica tudo um caos, mas faz parte….
Adoro o teu blog e o pod cast.
Beijinhos
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