Arroz na alimentação de bebés e crianças
O arroz é dos cereais mais populares e consumido em todo o mundo. Em Portugal, é presença regular nas despensas das famílias e a base de muitos pratos típicos. É também um dos primeiros cereais a ser oferecido ao bebé. Contudo, actualmente há uma preocupação crescente em relação ao arsénio presente no arroz e as suas implicações na saúde a longo prazo dos bebés e crianças.
Em Janeiro de 2015 a European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition (ESPGHAN) lançou um artigo intitulado Arsenic in Rice: A Cause for Concern (Arsénio no Arroz: Uma Causa de Preocupação). Neste artigo, o Comité de Nutrição explica o impacto na saúde a exposição a arsénio inorgânico e a necessidade de reduzir a exposição de bebés e crianças a este tipo de arsénio.
O que é o arsénio?
O arsénio é um metaloide (semimetal) que se encontra na natureza sob duas formas: orgânico e inorgânico. O perigo do arsénio é bem conhecido, contudo depende do tipo de arsénio (orgânico ou inorgânico) e no estado de oxidação. É largamente aceite que o arsénio inorgânico é mais tóxico que o arsénio orgânico. O arsénio orgânico é facilmente encontrado em frutos do mar, enquanto o inorgânico é comum na água em algumas regiões geográficas, e no arroz e produtos de arroz.
O arsénio tem sido responsabilizado por vários problemas de saúde, desde alterações gastrointestinais, cardiovasculares, hematológicas, pulmunares, neurológicas, imunológicas e função reprodutiva. Também está associado a um maior risco de desenvolvimento de cancros.
A Organização Mundial de Saúde estabeleceu um limite máximo de arsénio para a água potável. Contudo, o arsénio na comida carece regulamentação. Os níveis não são avaliados pelas marcas e isso não é comunicado aos consumidores, assim como não são comunicados os riscos para a saúde no consumo excessivo de arsénio.
Arsénio no arroz
O arroz possui maior concentração de arsénio que os outros cereais, devido à forma de cultivo (em campos inundados de água que contem arsénio) e pelas características físicas da planta, que absorve e acumula o arsénio presente no solo. Isto varia com o tipo de arroz e o solo onde é cultivado.
A maioria do arsénio inorgânico do arroz está concentrado na casca do arroz (farelo). Esta parte do grão possui 10 a 20 vezes maior concentração do que no resto do grão. Por isso, o risco é maior no consumo de produtos feios a partir da casca do arroz, como por exemplo bebidas vegetais, do que no arroz branco. Sabe-se também que a cozedura em água não contaminada com arsénio, reduz a quantidade de arsénio no arroz.
Grupos de risco
Há grupos de bebés e crianças em maior risco de exposição excessiva ao arsénio, de acordo com a exposição que tem a este cereal.
Bebés e crianças alimentados com leite de fórmula
Foram avaliados os níveis de arsénio no leite materno e no leite das fórmulas infantis (à base de leite de vaca). Na maioria das amostras do leite materno não foi encontrado arsénio, e quando foi encontrado tratava-se de arsénio orgânico em quantidades muito baixas. Já nas amostras de leite de fórmulas infantis, foi detectado algum arsénio. Estima-se que os bebés alimentados com leites de fórmula consomem 3 vezes mais arsénio que os bebés a leite materno. Contudo é um tema que necessita de estudo mais profundo.
Quanto aos leites de fórmula à base de arroz, para bebés que não consomem leite de vaca, estima-se que os níveis de arsénio seja 15 vezes superior aos leites de fórmula à base de leite de vaca. Não existem valores exactos, que carecem de estudos independentes.
Bebés e crianças com sensibilidade ao glúten ou doença celíaca
Tendo em conta que estes bebés e crianças têm que eliminar vários cereais da sua dieta, devido à presença do glúten, é normal que consumam em maior quantidade os restantes cereais, nomeadamente o arroz.
Conclusões e recomendações do ESPGHAN
CONCLUSÕES
- É provável que o consumo de arsénio inorgânico durante a infância afecte a saúde a longo prazo.
- Arroz, sobretudo a casca/farelo do arroz, contem níveis mais elevados de arsénio inorgânico.
- Embora existam dados sobre arsénio inorgânico nas comidas infantis e bebidas vegetais de arroz, há falta de dados publicados sobre a quantidade de arsénio em fórmulas infantis à base de arroz.
RECOMENDAÇÕES
- O consumo de arsénio inorgânico na infância deve ser o mais baixo possível.
- A quantidade de arsénio inorgânico em produtos para bebés e crianças precisa de ser regulamentado.
- Embora as fórmulas infantis à base de arroz sejam uma opção para bebés e crianças com alergia à proteína do leite de vaca, a quantidade de arsénio inorgânico deve ser declarado, assim como os potenciais riscos devem ser considerados, quando se usa estes produtos.
- As bebidas vegetais de arroz, ou à base de arroz, não devem ser oferecidas a bebés e crianças.
- A exposição ao arsénio inorgânico pode ser reduzida, incluindo variedade de cereais na dieta, como aveia, cevada, trigo, milho e arroz.
- Em certas áreas do mundo, onde o consumo de arroz é muito elevado em todas as idades, as autoridades devem declarar quais os cultivos de arroz com menor quantidade de arsénio, e consequentemente, os menos prejudiciais a serem oferecidos a bebés e crianças.
- Globalmente, o arsénio contido no arroz deve ser monitorizado e o arroz com menos quantidade deve ser usado para a preparação de comidas infantis.
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11 Comments
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Olá Leonor! O arroz integral terá, então, mais arsénio? Obrigada.
Olá! Como descrevo no post, sim.
Ola,
Vi um program da BBC que fala disto mesmo. E o arroz integral tem mais arsénio que o arroz branco. O que faz também baixar os niveis do arsénio era demolhar o arroz. Acho até que no programa coziam o arroz em muita àgua e deitavam fora o excesso. Uma forma de diminuar a quantidade.
Mas definitivamente o arroz branco é o que tem menos incidência. A EU estabeleceu limites, mas não sei muito bem como isto é verificado.
Olá Leonor, sou mãe de gémeos 17 meses. Sou Engenheira Alimentar e uma das minhas funções é estar sempre informada sobre a legislação para a minha empresa a cumprir. Venho muitas vezes aqui inspirar-me para preparar as refeições dos meus bebés e por isso com toda a humildade deixo este comentário. Quando se lê artigos científicos fora do contexto pode ser “perigoso” isto porquê? Existe Legislação Europeia REGULAMENTO (UE) 2015/1006 que impõe o limite de arsénico no 0.20 mg / kg arroz arroz branqueado não estufado (polido ou branco); arroz estufado e arroz descascado 0.25 mg /kg; 0.10 arroz para produção de alimentos para lactentes e crianças jovens como pode ver o valor mais baixo é para a alimentação para bebés. Esta legislação abrange outros alimentos e tudo o que são cereais e outros alimentos específicos para lactentes e bebés tudo o que são pesticidas e contaminantes têm obrigatoriamente valores mais baixos que para adultos. O que se pode concluir e claro que o arroz integral tem mais arsénico porque se concentra na casca, nas bebidas à base de arroz tem mais pois a legislação não é tão apertada como na alimentação infantil, etc. É complexo, o que posso sugerir é que temos de variar a alimentação dos nossos bebés.
Um beijinho e continuação de boas receitas ao dispor de qualquer esclarecimento adicional.
Olá Ana! Muito obrigada pelo seu insight, que é importante, claro. Pelo que percebo essa regulamentação é pós o artigo do ESPGHAN (o artigo é de 1 de Janeiro de 2015, dificilmente será contemporâneo). Concluo que apesar de haver essa regulamentação, será apenas para os produtores. Do ponto de vista de consumidor, não posso escolher um arroz no supermercado, estando informada da quantidade de arsénio que determinada marca possui, certo? É isso que o documento do ESPGHAN conclui e tenta recomendar, que essa informação seja clara para o consumidor.
Olá Leonor,
Vou tentar expor o tema sem ser uma seca como dizem os meus colegas do marketing!
O Regulamento que referi apenas altera o Regulamento 1881 de 2006 que, por sua vez revogou um de 2001 e por aí fora! Há já muitos anos que na União Europeia se legisla sobre o teor de vários contaminantes nos alimentos não só do arsénico no arroz também por exemplo outros contaminantes em cereais como trigo e a aveia, no leite na alface, etc. Aliás, a legislação em causa por vezes chega a sofrer várias alterações em apenas 1 ano. Estas alterações devem-se aos estudos da EFSA (Agência Europeia para a Segurança Alimentar) ou de artigos científicos que a EFSA acha válidos como estes da ESPGHAN. Ou seja, são lançados artigos como estes e atua-se a nível de legislação.
Quanto à sua questão o que lhe posso dizer é que todos os produtos que estão no mercado têm de cumprir com a legislação. Todo o arroz branqueado tem de terno máximo 0.20 mg / kg o arroz integral não tem limite e todo o arroz usado nas papas ou na alimentação dos boiões de bebé 0.10 mg / kg.
Deixo o Link do mais recente relatório da EFSA https://www.efsa.europa.eu/en/press/news/180725 que revela que, Portugal produz alimentos com níveis de segurança acima da média da Zona Euro (uma taxa de 98,4% de alimentos produzidos em Portugal livre de resíduos de produtos fitofarmacêuticos ou com níveis de resíduos dentro dos limites legais. A média da Zona Euro é de 96,2%.
O relatório revela também que 53,6% dos alimentos nacionais analisados está livre de resíduos quantificáveis (ou seja não têm quase nada), mais uma vez um valor melhor do que a média da Zona Euro, que se situa nos 51%).
Podemos concluir que a Zona Euro e Portugal têm alimentos seguros a nível de contaminantes.
Tendo eu toda esta panóplia de informação, a minha opção é variar a alimentação!
Espero ter ajudado e não ter dado uma “ganda” seca!
Leonor continue a deliciar-nos com as suas maravilhosas receitas!
Olá Leonor,
Post super interessante. Entretato, desde que introduzi o arroz na alimentação do meu pequenino, sempre foi o arroz integral, no maximo 2x por semana; vendo este post, pergunto-me se o ideal não seria trocar para o arroz branco?? Qual a opinião da Leonor ou de outra leitora em relação a esta questão?? Arroz branco ou Integral para os pequeninos e mesmo para nós adultos? Agradeço desde já!… Beijinhos!..
Olá Tânia,
Eu dou aos meus pequeninos arroz branqueado, mas não por causa do arsénico mas sim porque li no livro https://www.wook.pt/livro/1-2-3-uma-colher-de-cada-vez-maria-antonia-pecas/21608900 que os bebés ainda não têm o sistema digestivo preparado para o arroz integral. Um dos Autores é o Nutricionista João Breda que foi meu Professor e que neste momento trabalha na Organização Mundial de Saúde no Programa de Nutrição, Atividade Física e Obesidade.
É apenas uma opinião se calhar existem contrárias eu baseei-me neste critério por reconhecer competência ao Dr. João Breda.
Nós adultos comer dos dois!
Ola Ana,
Muito obrigada pela sua resposta ;)!… Beijinhos
Olá Leonor,
Tinha sido informada que além de cozer em água abundante e eliminar o excesso, também era muito importante lavar em várias águas o arroz antes de o consumir, como se fazia na geração anterior. Alguém sabe algo sobre a eficácia desta medida? Obrigada!
Olá! Sei da questão de cozedura em água abundante. Outros procedimentos não conheço.