Sabem do que estou a falar? Para ser sincera, nem eu sabia bem o nome do objecto em causa antes de escrever este post. Aparentemente chama-se alimentador para bebé, mas há quem lhe chame rede de fruta para bebés e outras variantes. E o que eu pergunto é: quando usar um alimentador para bebé? A resposta é: NUNCA! 

E agora vou vos guiar entre os motivos pelos quais esta foi a pior invenção da alimentação infantil. 

Começando pelo princípio, e para quem não conhece, o que é ao certo um alimentador para bebé. É um objecto que o bebé pode pegar com facilidade e levar à boca. Tem duas peças: a parte em que o bebé segura e uma segunda parte de rede ou silicone onde a comida é colocada. O bebé suga os sucos do alimento através de pequenos orifícios. 

Não previne o engasgamento.

As marcas que comercializam estes objectos prometem uma alimentação em segurança, sem o risco de engasgamento. Bom, já falámos sobre engasgamento aqui no blog e já percebemos que há uma confusão entre engasgamento e reflexo de vómito. Já sabemos que são coisas diferentes e até que o reflexo de vómito pode representar um momento de aprendizagem para o bebé. Também sabemos, que em relação ao engasgamento, os bebés e adultos tanto se podem engasgar com líquidos como com sólidos. No que respeita aos bebés, existem regras de segurança, para que isso não aconteça e não envolve o uso de um apetrecho como o alimentador para bebé. Podem encontrá-las neste post: Os bebés engasgam-se? – O reflexo de vómito.

Não ajuda na autonomia.

Outra vantagem que as marcas dos alimentadores para bebés indicam, é que o bebé ganha autonomia. É certo que ele pode sugar sucos dos alimentos sozinho com o alimentador (não pensem que o bebé come com aquilo). Mas qual a vantagem no futuro? Aí em casa comem o almoço com alimentadores? Não será mais benéfico oferecer ao bebé as condições com as quais todos comem em casa? 

O pediatra Carlos González costuma dizer, quando fala sobre alimentação de bebés, que quando queremos ir para norte, tomamos uma estrada nessa direcção. Se tomarmos uma estrada na direcção oposta, demoramos mais tempo a chegar ao destino. Assim é com a alimentação. A longo prazo queremos que o bebé integre a dieta e os hábitos da família, por isso, o ideal será oferecer condições que mais se aproximem desses hábitos: mãos, pratos, colheres, garfos, etc. 

A curto prazo sim, o bebé tem autonomia, mas a médio e longo prazo, teremos que ensina-lo a comer com a mão ou colher? Porque não ensinar logo, sem artifícios pelo meio?

Confunde os sentidos do bebé.

Também já falámos aqui no blog em como a alimentação é uma experiência sensorial para o bebé. O bebé aprende através da visão, olfacto, tacto e paladar. Percebe cores, cheiros, texturas e gostos. Estes alimentadores privam o bebé de praticamente todos os sentidos. Não conseguem perceber o que estão a comer olhando, pois toda a comida dentro do alimentador tem o mesmo aspecto. Não conseguem cheirar o alimento, nem sentir a sua textura. Por fim, no paladar, este também está condicionado, pois apenas são sugados os sucos dos alimentos, sem grande distinção de sabores. 

É muito mais benéfico para o bebé experimentar o alimento na sua forma mais natural possível, associando cores e cheiros, a texturas e sabores, percebendo o que prefere e como deve comer. Mesmo que não se adopte uma abordagem BLW, em que esta experiência é a base da abordagem. Numa abordagem tradicional, o bebé deve experimentar alimentos inteiros a dada altura do processo de alimentação. 

Não promove uma relação positiva com a comida.

Introduzir alimentos na dieta do bebé não tem o objectivo de alimentar o bebé. Mais que isso, inicia um relacionamento entre o bebé e a comida, que desejamos que seja prazeroso e positivo.

Muitos de nós comem com prazer, para além de se querer manter nutrido. Gostamos da refeição, de saborear alimentos, de sentir os odores dos pratos confeccionados. É todo um ritual que nos apraz. Não é diferente para um bebé. Para um bebé comer de forma saudável é fazê-lo com gosto e prazer. Os alimentadores para bebés em nada contribuem para a construção dessa relação. Honestamente, qual o prazer de sugar alimentos através de uma rede ou camada de silicone? 

 

 

Em suma, o alimentador para bebé não contribui em nada para o desenvolvimento de bons hábitos alimentares, nem na construção de uma boa relação do bebé com a comida. Quanto muito perturba o processo e prolonga o caminho de uma introdução da alimentação bem sucedida!