Existem vários truques, que vão passando de mãe em mãe, para que a introdução da alimentação complementar do bebé corra em feição. Interessa que coma, que engula, que se alimente e consequentemente o “como” é muitas vezes ignorado e cometem-se erros. E como os sei? Bom, primeiro porque conheci muitos pais, os seus truques e consequências, ao longo destes mais de 5 anos de maternidade. Segundo, porque também eu já cometi alguns destes erros ao alimentar um bebé. Rapidamente percebi, que por ali não era o caminho.

Antes demais, temos que perceber, que mais que alimentar um bebé, estamos a estabelecer uma relação daquele pequeno humano com o mundo das cores, texturas e sabores, que é a alimentação. Não comemos apenas com o intuito de dar ao nosso corpo calorias e nutrientes. Temos prazer em comer, temos ritos e hábitos ligados à comida. Para nós, comer é importante, porque gostamos de saborear, de estar à mesa com outras pessoas, de ter toda uma experiência à volta da comida. Para os bebés e crianças, também deve ser assim. Comer deve ser feito com gosto e prazer e não só porque sim.

Prender o bebé

Esta é uma das primeiras reacções dos cuidadores, quando o bebé começa a virar a cara, ou a tentar segurar a colher. Prende-se a cabeça e os braços do bebé, e cá vai disto. Um bebé também tem o direito de se manifestar, caso não goste ou não tenha apetite para comer. E colocando-nos no lugar dele, quantos de nós gostaria de ser amarrado, enquanto nos enfiam colheradas de coisas que não fazemos ideia do que são? Sem podermos mostrar reticência ao virar a cabeça, ou nos deixarem tocar para sentir a textura?

Usar a chupeta

Muitos cuidadores usam a chupeta na hora da refeição de duas maneiras: ou antes da colherada para o bebé abrir a boca, ou depois da colherada para forçar o bebé engolir o conteúdo da colher. Big no-no. Não se faz, não tem qualquer vantagem. Primeiro, estamos a enganar o bebé. Ele pensa que vai ganhar a sua chupeta, o seu objecto de conforto, mas afinal vão engana-lo com uma colher de sopa. Que relação de confiança se está a criar com o bebé? Nenhuma! Só estamos a criar mais inseguranças e desconfianças.

Disfarçar sabores

Quantas pessoas colocam fruta na sopa, para ficar mais docinha, ou fruta na ponta da colher para o bebé comer melhor? Mais uma vez pergunto, será este o caminho? Queremos aproximar a alimentação do bebé o mais possível à alimentação da família. Por isso, se a comida habitual em casa tem fruta misturada na sopa e nos pratos principais, faz sentido. Mas se não tem, não faz qualquer sentido fazer misturas exóticas, que afastem o paladar e os hábitos do bebé do que será a comida dele no futuro. 

Usar distracções 

Um clássico! O tablet, a televisão, o telemóvel, brinquedos, porque “só assim é que come”. Há vários problemas nesta questão. Primeiro, estamos a expor bebés a crianças a ecrãs, desnecessariamente. O mais grave, é que estamos a desviar a atenção deles da comida. Eles não estão a aprender nada, nem a viver uma experiência que vai conduzir a uma aprendizagem sobre comida. Não estão a apreender cores, cheiros e sabores da comida. Pela minha experiência, de contacto com outras mães, este é o que tem as maiores repercussões na vida futura da criança, resultando em crianças mais reticentes em comer e com maiores dificuldades em aceitar alimentos.

Usar biberão para comidas sólidas

“Porque é mais fácil, é mais rápido, despachamo-nos mais depressa, aquilo vai num instantinho”. Mas não! Sim, há pessoas que colocam a sopa ou a papa num biberão, abrem um pouco mais a tetina do biberão e o bebé come assim. Mas qual a vantagem para o bebé mesmo? É que só oiço vantagens para o adulto. O bebé não aprende a mastigar, porque a comida vai pronta a engolir. Não aprende a saborear e a sentir texturas.

Definir uma quantidade a comer

Este é outro erro! O apetite e o gosto do bebé não é sempre o mesmo. Há dias que come mais, outros que come menos. Há dias que a sopa sabe-lhe bem, outros que nem por isso. Não há motivo para obrigar um bebé, por todas as estratégias e mais algumas (como as acima descritas) para que coma tudo! Mas o que é tudo? E quem definiu esse tudo? Há motivo para que o bebé tenha que comer essa quantidade?

Passar a comida toda

Independentemente se estão a fazer uma abordagem tradicional ou de baby-led weaning, a determinada altura (idealmente entre os 6-9 meses, mais ou menos) é importante que o bebé tenha contacto com comida aos pedaços e mais consistente. Triturar finamente toda a comida, não tem qualquer benefício no que estamos a tentar fazer: estabelecer uma boa relação do bebé com a comida. Só facilita a vida ao cuidador, pois é mais rápido do bebé comer, suja menos e tudo. 

 

Em suma, vamos começar a pensar mais nos bebés, a colocar-nos no lugar deles, e nas consequências que os nossos actos têm. Vamos deixar o nosso comodismo de lado, na hora de alimentar um bebé. O que é mais fácil, rápido e prático para nós, nem sempre é o mais benéfico para o bebé.

 

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