“Somos o que comemos” Grande Reportagem SIC
Hoje fomos ao supermercado comprar alguns legumes que faltavam cá em casa. Esqueci-me que era feriado e a frutaria aqui do prédio estava fechada – prefiro sempre os legumes e frutas frescas aqui da frutaria, ao invés do supermercado, mas à falta disso, o supermercado dá para remediar. O corredor das frutas e legumes, estava “minado” de ilhas com ovos, amêndoas e outras iguarias alusivas à Páscoa, rodeadas por crianças frenéticas que pediam aos pais aqueles doces e guloseimas. A L., que andava por ali ao pé de mim, enquanto eu escolhia uns tomates, brincava, fingindo que devorava todos os legumes das prateleiras, qual Monstro da Bolachas, e perguntava se podíamos levar aquele pimento, ou a couve-flor, que era muito fofinha. Lá me convenceu a trazer agriões para a sopa e tomatinhos cereja para uma salada. As outras pessoas sorriam deliciadas com a L. (e com a T. encafuada no marsúpio), com a alegria e carinho com que mexia nos legumes, com a delicadeza com que pegava nas frutas e perguntava o que era. A L. é mesmo assim, prefere uma vermelha e vibrante maçã, a um chocolate embrulhado em papel colorido brilhante.
Não podia encontrar melhor introdução, para o texto que pretendia escrever sobre a reportagem de ontem da SIC. É absolutamente assustador, percebermos que com a melhor das nossas intenções, estamos a envenenar os nossos filhos de açúcar. Como percebem pelo blog, o açúcar é um dos ingredientes que tento excluir das receitas que faço, a todo o custo. Mas infelizmente para a L., nem sempre fui a pessoa consciente em relação aos perigos do açúcar, como sou agora. Na maior das minhas inocências e na melhor das minhas intenções de nutrir a minha filha, comprava papas de pacote, atrás de papas de pacote, para a L., que comia religiosamente todos os dias. Foi um hábito que eu criei, e pelo qual sou responsável. Em relação a tudo o resto, sempre fui muito consciente, para além que a L. sempre teve um gosto particular, para não gostar de alimentos demasiados doces, e eu também não mostrei muito interesse em que comesse.
Com o tempo, fui me interessando cada vez mais por alimentação, tanto nossa, como da L. A minha visão em relação à comida mudou radicalmente no Verão passado, quando vi o documentário “Food Matters“. Aqui percebi verdadeiramente, que somos o que comemos, e que tudo que enfiamos na boca, envia uma mensagem ao nosso corpo. Não demorou muito a perceber quais os alimentos que enviavam más informações e os que enviavam boas informações.
Desde aí, entrei na saga de meses de mudar os hábitos alimentares cá em casa. Para começar, aboli tudo o que eram alimentos processados cá em casa. Não eram muitos, mas eram os suficientes para sentir que tinham de desaparecer. Actualmente mantemos alguns refrigerantes na despensa para convidados, uma embalagem de bolachas Maria para as pequenas, e algumas caixas de cereais de pequeno-almoço (esta parte está a custar mais). Desfazer-me das caixas de papa da L. foi o mais difícil, sobretudo, porque ela não aceitava mais nada para pequeno-almoço. Foi um processo muito demorado, mas agora com alguns resultados. Continuo a ter uma caixa de papa em casa, porque a L. me pede às vezes, e a meu ver, não vem mal ao mundo se comer de vez em quando. Para já, optou por cereais de pequeno-almoço, dos que têm uma quantidade de açúcar menor que as papas (metade do açúcar), alterna com pão com compota de frutas sem adição de açúcar, e leite ou iogurte que faço em casa. Mas tento que ela varie o máximo possível, e que perceba que o pequeno-almoço pode ser diferente todos os dias, desde que tenha produto lácteo, cereais (açúcares complexos de absorção lenta) e fruta, sempre que possível.
A T. teve mais sorte, não foi alvo dos erros que cometi com a irmã. Nasceu de uma mãe muito mais alerta e consciente em relação à alimentação dela. Embora ainda não tenha conseguido que a L. goste das papas caseiras, a T. devora-as, tal como uma papa de pacote – talvez até com mais satisfação. Também tenho papa de pacote para a T., como disse, não vem mal ao mundo comer de vez em quando.
Como vão percebendo pelo blog, tento fazer das refeições das minhas filhas, momentos divertidos, mas saudáveis. Nutrir com muito sabor, transmitir-lhes bons ensinamentos sobre comida, que percebam o que é bom, o que é mau e sobretudo, prepara-las para o futuro, para que quando tiverem que ser elas a escolher o que vão comer, o façam bem e de forma consciente.
Não acredito que proibir que comam determinadas coisas, faça com que depois nunca se interessem em comê-las. Acho que só vai criar ainda mais curiosidade. Quem nunca ouviu dizer que “o fruto proibido, é o mais apetecido”? Mas acredito que há momentos específicos para dar a experimentar determinadas coisas, e de certeza que não é aos 7 meses numa festa de aniversário. Para mim, deve-se esperar para que entendam, para que lambam um gelado, que os seus olhos se regalem de consolo, e que se explique que hoje está a comer um gelado, por excepção, que amanhã não comerá outro, talvez dali a umas semanas. Quanto à L., este processo foi sempre muito fácil, ela percebe, quando lhe explicamos, e porque durante meses da sua vida, foi motivada a gostar mais de outros alimentos, que chupa-chupas, chocolates ou rebuçados. No fundo é educar as crianças a comer, assim como educamos para que se portem bem. E desenganem-se que depende da criança, depende dos pais. Não é a criança que faz as compras de supermercado lá para casa, não é a criança que confecciona a comida, não é a criança que coloca o prato na mesa, não é a criança que é responsável, são os pais, os avós, os tios, os adultos.
Não me vou alongar mais, muito havia para ser dito sobre este tema. Se não viram a reportagem, vejam, vale muito a pena. Olhem para os rótulos das coisas, e se o açúcar (nos seus mais variados nomes) aparece em primeiro ou segundo lugar na lista de ingredientes, ou se existe mais de 20gr de açúcar por cada 100gr de produto, questione-se se isso lhe parece normal. Ou melhor ainda, compre produtos sem rótulos: legumes, frutas, cereais. Com estes, não há como enganar, ou ser enganado.
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Também tenho um filho pequeno e também estou a tentar ser consciente em relação à alimentação dele. Queria apenas partilhar que há papas de pacote sem qualquer açúcar adicionado. São da marca holle, vende-se no celeiro, wells e supercor. Mas aqui por casa a papa de aveia com manga é um sucesso (embora não coza a manga, uso crua adicionada à aveia cozida com água). E estou em pulgas para experimentar a nova papa sem glúten que postou há pouco tempo 😉 fora as outras comidas que ele ainda não come (tem 7 meses) 😉 obrigada pelo excelente serviço prestado neste blog e Boa Páscoa!!
Olá!! Eu conheço as papas Holle 🙂 Comprei para a T. comer, mas a apreciação destas papas não foi a esperada. Ela prefere mesmo as caseiras, são as que ela come melhor. Obrigada pelo carinho e Boa Páscoa!