papasgluten01

Nunca pensei em usar o blog como espaço de desabafo, mas sobre este assunto, acho pertinente partilhar com os leitores estas minhas angústias. Verdade, também me angustio de vez em quando, sobretudo no que toca às miúdas cá de casa. 

Quem nos segue, percebe que sou a favor de oferecer as oportunidades que levem a autonomia das crianças. Penso, que em nada beneficiamos em priva-las da exploração e do auto-incentivo, e que ao fazermos podemos estar a perder as conhecidas “janelas de oportunidade” para o desenvolvimento delas. 

Sempre achei que a L. fazia as coisas dentro dos tempos exigidos, como se isso existisse. A primeira e única vez que chorei ao ver a autonomia dela, foi um dia, à saída da escola, em que ela disse que precisava de ir à casa-de-banho; prontifiquei-me a ajuda-la, como já vinha sendo hábito nos últimos meses, e de modo muito assertivo me disse “não, eu vou sozinha”. Fiquei ali, basbaque, a ver o processo todo, de como ela se desenrascou sozinha. E sim, soltei a bela da lágrima, de orgulho e tristeza. Orgulho de ver a minha bebé a crescer, desenrascar-se e a não depender de ninguém. De tristeza, por já não “precisar” de mim. Foi algo que me fui apercebendo gradualmente. Quando ela deixou de mamar, já não precisava de mim para a alimentar, quando começou a andar, já não precisava do meu colo para a transportar, quando começou a comer sozinha, já não precisava de mim para lhe levar a colher à boca. As coisas foram chegando gradualmente, fui ganhando uma menina independente e perdendo o meu bebé pequenino. Este era o último marco de bebé que “perdia”.

Depois chegou a T. Ainda dentro da barriga, prometia ser um despacho – menos para nascer, que quanto isso, tanto uma como outra, foram obrigadas e bem obrigadas. Apesar de ser um autentico bebezão de 14 meses, que se aninha no nosso colo, dorme se for preciso, coisas que a L. nunca fez, vejo-a a tornar-se numa menina crescida a cada dia que passa.

Hoje dei por mim assim, no meio delas as duas, cada uma a tomar o seu pequeno-almoço e nenhuma me pediu ajuda. Raparam os seus pratos, tomei o meu pequeno-almoço em sossego, como já não tomava há muito tempo, e fiquei assim incrédula de como deixo de ter bebés tão cedo. A T. já anda, já se mete com a irmã, já partilham brincadeiras e eu fico a olhar. Já não preciso de mediar aquela relação, de chamar a atenção da L. que a T. ainda é pequena, nem afastar a T. da L. para não lhe puxar os cabelos. Estão as duas umas crescidas, e no meu íntimo, eu não quero isso. 

É assim um sentimento esquizofrénico, um sentimento tão de mãe! Queremos que vençam, que consigam sozinhos, que sejam autónomos e independentes, desenrascados e bem sucedidos. E depois, choramos pelos cantos, pelo nosso trabalho bem feito, e por já não precisarem de nós, da sua mamã. A minha mãe sempre me disse, que eu só lhe iria dar valor, quando fosse mãe. E dou por mim, agora com quase 30 anos, a pedir tudo e mais alguma coisa à minha mãe, e a vê-la de sorriso rasgado no rosto a ajudar-me, a ver-me “bebé”, mesmo quando já não o sou. 

Espero então, que daqui a 30 anos, volte a ter os meus bebés de volta. Cá estarei durante esses 30, e os seguintes para ser a mamã, que sempre precisarão.